Resolutividade
da campanha de prevenção e diagnóstico precoce do câncer bucal em São Paulo,
Brasil
Ficha de Citações por Ícaro Meneses
Leopoldo, J. F. A.; Natasha, T. T.; Wünsch, V. F.; Rev Panam Salud Publica vol.21 no.1 Washington Jan. 2007
“Na Cidade de São Paulo, nas duas últimas décadas, a mortalidade por câncer bucal manteve-se estacionária, porém elevada (1). No Estado, a incidência desse tipo de câncer também é elevada em relação a outros contextos urbanos no país e no exterior, sendo o sofrível perfil de sobrevivência dos pacientes associado ao retardo no diagnóstico (2). Em 2005, o Instituto Nacional de Câncer estimou, para o Estado de São Paulo, a incidência de 17,77 casos de câncer de cavidade oral para homens e 5,59 para mulheres (taxas brutas por 100 000 habitantes) (3). A partir de 2000, a mortalidade por câncer de boca (incluindo faringe) tem sido em média 6,95 para homens e 1,20 para mulheres (taxas brutas por 100 000 habitantes) residentes no Estado. Quando considerada apenas a faixa etária de 60 anos ou mais, esses números sobem para 40,77 e 7,74, respectivamente (4).”
“No Brasil, a prevenção primária do câncer de boca consiste fundamentalmente em programas e medidas de combate ao consumo de tabaco e álcool, num esforço integrado de promoção da saúde que visa à redução de vários outros agravos. O exame visual da boca para detecção precoce de lesões cancerizáveis e tumores não sintomáticos é uma estratégia de prevenção secundária intuitiva e atraente, a partir da qual se espera viabilizar o diagnóstico da doença em seus estágios iniciais e, assim, possibilitar um melhor prognóstico por meio da pronta e efetiva intervenção terapêutica. Com o objetivo de integrar os dois níveis de prevenção, foi implementada, em 2001, no Estado de São Paulo, uma campanha anual de prevenção (medidas educativas e de orientação) e diagnóstico precoce (visual) de lesões suspeitas de câncer bucal.”
“Embora o diagnóstico de tumores de boca em estágio inicial implique um melhor prognóstico para os pacientes (5), as evidências epidemiológicas não têm dado suporte a iniciativas de rastreamento de câncer bucal, uma vez que os estudos sobre medidas terapêuticas associadas a esses programas não permitiram conclusões definitivas a respeito de benefícios quantificáveis (6, 7). Seria ineficaz indicar procedimentos de rastreamento para o câncer bucal, principalmente em contextos com recursos escassos para as ações de saúde (8). Não obstante, os organismos de saúde do Canadá e dos Estados Unidos consideram recomendável a realização periódica de exames bucais para pessoas com mais de 60 anos, fumantes e com perfil de consumo elevado de bebidas alcoólicas (6, 7, 9). Um recente estudo de base populacional para avaliar o impacto do exame visual da cavidade bucal sobre o câncer oral na Índia mostrou que esse tipo de rastreamento pode, efetivamente, reduzir a mortalidade em grupos de alto risco (10).”
“O estudo de resolutividade dos esforços de rastreamento do câncer bucal é complexo e envolve múltiplas dimensões. O primeiro e principal objetivo do rastreamento é identificar casos suspeitos e possibilitar a rápida aplicação de recursos laboratoriais visando a confirmar ou rejeitar a suspeita diagnóstica. Portanto, a avaliação dessas campanhas deve incluir a verificação quanto ao seguimento dos pacientes encaminhados para a realização de procedimentos diagnósticos e tratamento imediato ou, afastada a suspeita de câncer, tratamento adequado das lesões de tecido mole da boca.”
“Considerando a necessidade de conscientizar a população sobre os riscos relacionados ao câncer bucal e de efetivar uma estratégia de diagnóstico precoce de casos da doença, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo implementou, em 2001, a participação de cirurgiões-dentistas nas campanhas anuais de vacinação de idosos contra a gripe. Desse modo, os profissionais de saúde têm acesso a um contingente da população em faixa etária de risco mais elevado para a doença. Nesse contato, os profissionais de saúde buscam prover orientações quanto à prevenção e redução do consumo de tabaco e bebidas alcoólicas e realizar exames bucais para a detecção de lesões de tecido mole da boca, além de avaliar a condição e a necessidade de próteses dentárias.”
“Com base nesses dados, o Centro Técnico de
Saúde Bucal da Secretaria de Estado da Saúde estimou que, de 238 087 exames
bucais realizados no Estado durante a campanha de 2004, 92 casos de câncer de
boca podem ter sido diagnosticados, embora nenhuma inferência possa ser feita
sobre o estadiamento dos tumores detectados. A Secretaria presumiu ainda que 88
dos casos rastreados de câncer de boca (96%) teriam iniciado o tratamento em
2004. Um total de 1 070 pessoas não seguiu a orientação de encaminhamento para
elucidação diagnóstica. Dentre os que atenderam o encaminhamento, não foi
registrado o seguimento de 875 casos. Para 36 pessoas, não se conseguiu
identificar serviços de referência, e para 77 pessoas outros motivos teriam
impedido a resolução do problema.”
“Todos
esses aspectos devem ser considerados na discussão sobre a resolutividade da
campanha de prevenção e diagnóstico precoce do câncer bucal em idosos e sua
possível extensão nos próximos anos. Os resultados aqui informados são parte da
reflexão necessária para que a realização dessa campanha, assim como a
proposição de sua ampliação, não se fundamentem apenas em uma expressão
voluntarista e na falsa percepção de que qualquer atividade de saúde pública é
válida para o controle do câncer bucal na população.”
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